

Autoestima com Atitude que Liberta - Parte 1
O desejo como privilégio e a arte de administrá-lo
Introdução
Vivemos, com frequência, um ciclo de frustração: metas não cumpridas, expectativas alheias difíceis de atender, dificuldade de dizer “não” aos outros e a nós mesmos. Nesse movimento, vamos nos identificando com resultados e perdendo a sensação de conexão interior. A espiritualidade entendida como relação viva com a própria natureza. Este texto é um convite a compreender o papel do desejo na nossa vida e a recuperar uma autoestima serena, independente da comparação.
1) O desejo é um privilégio humano
Desejar não é um defeito: é uma capacidade que nos distingue dos animais. Não nos limitamos a sobreviver; podemos imaginar, criar, inovar, buscar conhecimento, expressar arte, desenvolver tecnologia e aprofundar a espiritualidade. Desejar é viver: o desejo mobiliza, dá direção e coloca a vida em movimento.
2) Desejo pede discernimento
O desejo é como fogo: cozinha o alimento ou incendeia a floresta. Ele surge espontaneamente; já a resposta a ele é escolha nossa.
Há três caminhos possíveis diante de um desejo:
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Atender: quando é legítimo, não fere ninguém e está alinhado a valores e propósitos.
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Adiar/Educar: quando ainda não é o momento ou quando pode aprisionar (ex.: hábitos que pedem maturação e limites).
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Renunciar/Transmutar: quando é claramente destrutivo ou viola a dignidade própria ou alheia.
Essa liberdade de escolher o que fazer com o desejo é o exercício humano por excelência.
3) Desejo natural x desejo exacerbado
Convém distinguir:
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Desejos naturais e legítimos: necessidades reais (alimento, abrigo, saúde), afeto e vínculos, boa convivência, expressão criativa, utilidade social, aprendizado, trabalho significativo.
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Desejo exacerbado: nasce de condicionamentos e ignorância acerca do que, de fato, traz bem-estar. A modernidade e a superexposição a estímulos ampliam esse excesso.
Formas comuns do desejo exacerbado:
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Inflamado pela comparação: “preciso do que o outro tem”.
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Induzido: plantado por marketing, redes sociais e padrões de consumo.
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Artificial/Supérfluo: agrega pouca ou nenhuma substância à vida, mas rouba tempo, foco e recursos.
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Programado/Obsolescência: “preciso do novo porque o antigo ‘não serve’ mais”.
Sem crítica e medida, esses desejos competem com as necessidades básicas e corroem a paz.
4) O ciclo desejo–expectativa–resultado
O roteiro é conhecido:
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O desejo nasce → cria expectativa.
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Resultado positivo → alegria breve.
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Resultado negativo → frustração.
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Surge um novo desejo → o ciclo recomeça.
Isso vale para metas materiais e também para ideais “elevados” (ser mais calmo, aprender algo, “ser perfeito”). A indústria da atenção explora nossas emoções e reforça o circuito. O efeito colateral é uma “régua” sempre mais alta e inalcançável, com consequências previsíveis: paralisação de projetos, baixa autoestima, tristeza, sensação de incapacidade.
5) A raiz do sofrimento
O sofrimento não nasce do desejo em si, mas da identificação com a ideia de que só serei feliz quando todos os desejos forem atendidos.
Como os desejos são potencialmente infinitos e o tempo é finito, essa conta nunca fecha. O resultado é uma felicidade fracionada: instável, frágil, sempre adiada.
6) A virada de chave
Libertar-se não é “matar o desejo” e tampouco realizar todos eles. É reconhecer que:
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Não é possível atender a todos os desejos e tudo bem.
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Posso ser feliz sem “quitar a lista”.
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Eu não sou os meus desejos; eles são movimentos da mente.
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Emoções são termômetros, não sentenças: raiva, tristeza ou frustração apontam ajustes a fazer, não um fracasso essencial.
Quando essa compreensão amadurece, cresce a sabedoria de direcionar energia ao que, de fato, importa, com foco, sem distrações, e com escolhas conscientes.
7) Prática de autoavaliação
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Observe sua “lista invisível” de desejos/obrigações. Faz sentido esperar felicidade plena apenas quando tudo estiver cumprido?
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Atribua uma nota de frustração de 0 a 10 (0 = leveza e gratidão; 10 = saturação, incapacidade, sensação de perda de si).
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Repare como essa nota dialoga com sua autoestima: quando nos julgamos incapazes de experimentar uma vida boa aqui e agora, a autoestima cai.
Use essa leitura não para se culpar, mas para reordenar prioridades e reduzir o peso do desejo exacerbado.
8) Conclusão: atitude que liberta
A autoestima genuína não nasce da soma de troféus, e sim do reconhecimento de que há dignidade em ser quem você é, independentemente do inventário de desejos atendidos. Valorize a capacidade de desejar e agir; acolha os limites; ajuste rotas; e, quando não sair como gostaria, diga a si mesmo: faz parte.
Na Parte 2, avançaremos um passo essencial: compreender o que está sob nosso controle (ações, escolhas, perseverança e revisão de planos) e o que não está (todo o conjunto de resultados e variáveis da vida). Essa distinção aprofunda a leveza e sustenta a “atitude que liberta”.
Autor: Saulo Leonardo Lalli - Assista o vídeo no YouTube clicando aqui.



1) Ponte com a Parte 1
Desejar é privilégio. O problema começa quando a felicidade é condicionada a realizar todos os desejos. A atitude que liberta nasce ao separar claramente o que está no meu comando e o que não está. Eu comando os meios. Os fins dependem de muitos fatores. Essa distinção estabiliza a autoestima e reduz sofrimento.
2) O que é atitude saudável
Atitude saudável é objetividade diante da vida. Eu distingo meios e fins. Meios são ação, planejamento, revisão, perseverança. Fins são resultados e eles não estão integralmente nas minhas mãos. Quando confundo meios com fins, crio frustração. Quando entendo o limite entre ambos, surge leveza e maturidade.
3) Liberdade sobre a ação
Tenho liberdade para escolher a ação, montar um plano, pedir ajuda, revisar o plano e insistir com inteligência. Aprendo no caminho e ajusto a rota. Não fico prisioneiro do meu próprio plano. A liberdade verdadeira aparece quando posso dizer sim ou não com lucidez, inclusive ao plano que eu mesmo criei.
4) Onde termina a liberdade
Depois de agir, o resultado passa a ser regido por leis e circunstâncias que não domino totalmente. Existem variáveis conhecidas e variáveis ocultas. Existem escolhas de outras pessoas e fatos imprevisíveis. Reconhecer esses limites não é passividade. É realismo que protege da culpa excessiva.
5) Redefinir sucesso
Se sucesso é “acertar sempre”, todos fracassamos. Uma medida mais sábia é a capacidade de lidar com a realidade que aparece. Às vezes vem igual ao esperado. Às vezes vem mais. Muitas vezes vem menos. Em alguns casos vem o oposto. Sucesso é maturidade para atravessar todos esses cenários sem romper a autoestima.
6) Quatro desfechos de uma ação
Toda ação pode resultar em quatro formas:
1. Igual ao esperado. 2. Mais do que o esperado. 3. Menos do que o esperado. 4. Oposto ao esperado.
Saber disso antes de agir muda a postura. Eu preparo a mente para celebrar com sobriedade o que vem de bom e para aprender sem me destruir quando vem menos ou o oposto.
7) Exemplo prático: atravessar a rua
Plano: atravessar a rua para pegar o ônibus.
Igual: atravesso e pego o ônibus, tudo conforme o esperado.
Mais: atravesso e recebo carona até o destino.
Menos: atravesso e perco o ônibus por segundos.
Oposto: escorrego, caio e vou ao hospital. A mesma ação pode ter quatro fins diferentes. A sabedoria está em agir bem e manter sobriedade em qualquer desfecho.
8) Quando vem igual ou mais
Se o resultado chega igual ao planejado ou acima dele, eu celebro sem euforia exagerada. Agradeço, reconheço o que funcionou e registro o aprendizado. Evito transformar acerto em orgulho que me cegue. Sobriedade no ganho prepara a mente para lidar com futuras variações sem grandes oscilações emocionais.
9) Quando vem menos ou oposto
Se o resultado vem abaixo do esperado ou até no sentido contrário, pratico três movimentos. Autorrespeito: não transformo o revés em identidade. Aprendizado: o que este resultado me mostra sobre meios, tempo, competências e recursos. Ajuste: o que mudo no plano, na abordagem ou no ritmo para seguir.
10) Revisar o plano é liberdade
Fidelidade ao propósito não exige rigidez de método. Revisar é sinal de inteligência prática. Eu busco orientação de quem sabe mais, redesenho metas, redistribuo recursos, mudo a ordem dos passos. Valores firmes, métodos flexíveis. Assim a ação fica mais eficiente e o coração mais tranquilo.
11) Três critérios da boa atitude
Fazer o melhor possível com os meios disponíveis. Avaliar limites e recursos com honestidade. Entregar o resultado sem autocondenação. Essa tríade une paz e desempenho. O foco permanece naquilo que posso fazer agora, do melhor modo que sei, aceitando que o fim não é inteiramente meu.
12) Exercício de esfera de controle
Eu separo por escrito o que controlo do que não controlo. No círculo interno coloco ações concretas. No círculo externo coloco fatores fora do meu alcance. Defino próximos passos apenas com itens internos. Essa prática simples reduz ansiedade, aumenta clareza e devolve energia para o que realmente move a situação.
13) Tudo é dado
Grande parte do que uso como meio é dado: corpo, respiração, mente, tempo, relações, natureza, oportunidades. Até as leis que conectam ação e resultado são dadas. Reconhecer isso gera humildade e gratidão. A autocrítica perde força, porque entendo que faço parte de uma ordem maior.
14) Protegendo a autoestima
Troco a pergunta “deu certo ou errado” por “o que aprendi e ajustei”. Comparo-me comigo mesmo ontem, não com o outro. Trato resultado como informação para calibrar meios, não como sentença sobre o meu valor. Autoestima saudável nasce de dignidade intrínseca mais compromisso com aprender.
15) Frases Chaves
Repetir essas frases em momentos de variação de resultados ajuda a treinar a mente para uma atitude estável:
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Sou responsável pelas minhas ações, não por todos os resultados.
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Planejo, ajo, aprendo, reviso e sigo.
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Resultado é feedback.
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Meu valor é maior do que qualquer placar do dia.
16) Prática breve
Escolho uma situação atual. Listo três ações sob meu controle para as próximas 24 horas. Executo a primeira ainda hoje. Inspiro fundo para reconhecer o esforço honesto e expiro o que não depende de mim.
Poucos passos consistentes valem mais do que grandes planos parados.
17) Plano da semana
Aplicar a separação entre meios e fins em um tema importante. Escrever um ajuste de plano concreto. Registrar um aprendizado por dia. Com isso a mente se treina a manter dignidade, foco na ação e aceitação madura do resultado.
18) Fecho
A atitude que liberta se apoia em dois pilares:
1. Administrar desejos de modo sábio, sabendo que não realizarei todos;
2. Aceitar limites do controle, sabendo que o resultado depende de muito além de mim.
Quando faço bem a minha parte e solto o resto, a autoestima se estabiliza e a vida ganha leveza.
Autor: Saulo Leonardo Lalli - Assista o vídeo no YouTube clicando aqui.
